Compra de armas registra queda de 91% no governo Lula, mas número de fuzis cresce em 2025
Sob Lula, a compra de armas por CACs caiu 91% em relação a 2022, mas número de novos fuzis registrados voltou a crescer em 2025, gerando preocupação de especialistas em segurança pública.
Registros mostram forte retração no total de armamentos adquiridos por CACs, mas fuzis têm alta de 17% nos primeiros meses de 2025
O governo Lula (PT) promoveu um freio radical na flexibilização da compra de armas imposta durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL). Dados oficiais obtidos pela Folha de S.Paulo via Lei de Acesso à Informação (LAI) mostram que a aquisição de armamentos por caçadores, atiradores e colecionadores (CACs) caiu 91% entre 2022 e 2024.
Foram 39.914 novas armas adquiridas em 2024, frente a 448.319 em 2022, último ano da gestão Bolsonaro, quando o acesso era mais facilitado.
Fuzis voltam a crescer em 2025
Apesar da redução generalizada, os fuzis, armamento de uso restrito, apresentaram uma alta preocupante em 2025. Somente nos quatro primeiros meses deste ano, foram registrados 1.248 novos fuzis, superando os 1.063 de todo o ano de 2024, o que representa um crescimento de 17,4%.
O aumento ocorre mesmo diante do endurecimento das regras desde 2023, quando o presidente Lula assinou um decreto que restabeleceu os níveis de classificação dos CACs e reduziu os limites de armamento permitido por categoria.
Impacto do novo controle e dados acumulados
A mudança de política já havia impactado os dados em 2023, quando o número de novas armas caiu para 176.870, marcando uma redução de 77% em relação a 2022. Já entre janeiro e abril de 2025, o total de novas aquisições somou 18.065 unidades.
Hoje, o Brasil soma cerca de 1,5 milhão de armas legais registradas nas mãos de 980 mil CACs. Destas, 932.551 foram compradas durante os quatro anos de Bolsonaro. No governo Lula, até abril de 2025, foram 234.849 novas aquisições.
Especialistas veem riscos no crescimento de fuzis
Para o consultor sênior do Instituto Sou da Paz, Bruno Langeani, o aumento na compra de fuzis é preocupante. “Será fundamental que a Polícia Federal investigue onde e em quais perfis essas compras estão concentradas”, afirmou. Ele alerta que muitos desses fuzis podem estar em situação irregular e destaca a importância da verificação contínua da idoneidade dos CACs.
Um levantamento indica que cerca de 7.600 armas de uso restrito compradas durante o governo Bolsonaro não foram recadastradas na Polícia Federal, representando cerca de 15% do total desse tipo de armamento em posse dos CACs.
Nova responsabilidade da PF na fiscalização
Desde 1° de julho de 2025, a Polícia Federal passou a assumir a fiscalização dos CACs, substituindo o Exército. A transição completa deve ser finalizada até 29 de agosto. Para isso, a PF contratou 579 profissionais terceirizados, número abaixo do ideal solicitado pelo Ministério da Justiça (3.000 cargos), e conta com reestruturação interna, incluindo a criação de delegacias especializadas em todos os estados.
O diretor de Polícia Administrativa da PF, Fabrício Schommer Kerber, afirmou que o foco da nova gestão é garantir que todos os CACs atendam aos critérios legais. “Só neste ano, 70 pessoas com registro já foram presas por diversos crimes”, destacou.
Desafio maior: arsenal em mãos privadas
Para o conselheiro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Roberto Uchôa, a mera redução nas compras não resolve o problema.
“O desafio não é apenas frear a aquisição de novas armas, mas gerenciar o vasto arsenal que já se encontra em mãos privadas”, afirmou.
Ele destacou ainda que ao menos 8% das armas apreendidas em crimes em São Paulo pertenciam a CACs. Além disso, 5.200 condenados conseguiram manter ou renovar seus registros, segundo relatório do Tribunal de Contas da União (TCU).
Recompra de armas ainda sem implementação
Apesar do decreto de 2023 prever um programa de recompra de armamentos, a medida ainda não saiu do papel. O Ministério da Justiça informou que o plano continua em avaliação.
Diante do aumento recente nas aquisições de fuzis e da presença de armas em mãos inadequadas, a expectativa é que a fiscalização se torne mais eficaz com a gestão centralizada na PF e com a conclusão do recadastramento obrigatório.