Depoimento de Bolsonaro ao STF expõe distorções e reforça suspeitas de tentativa de golpe
Em depoimento ao STF, Bolsonaro admite que discutiu com militares alternativas pós-eleição de 2022. Mentiras, distorções e evasivas reforçam acusações contra o ex-presidente. Confira os 5 principais pontos.
Ex-presidente nega plano de golpe, mas admite reuniões com Forças Armadas e levanta suspeitas sobre urnas
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) prestou depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (10), como réu pela suposta tentativa de golpe de Estado após a vitória de Lula (PT) nas eleições de 2022. Durante o interrogatório conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, Bolsonaro negou ter planejado uma ruptura institucional, mas admitiu ter discutido “alternativas constitucionais” com chefes militares.
Abaixo, os 5 principais pontos que marcaram o depoimento de mais de duas horas ao STF:
1. Mentiras sobre ataque à imprensa
Bolsonaro afirmou que os cortes de verbas publicitárias para veículos de imprensa durante seu governo foram motivados por “limites orçamentários”. No entanto, especialistas e registros de sua gestão indicam que os ataques foram sistemáticos e com objetivo político, incluindo ofensas a jornalistas, ameaças a concessões e tentativas de descredibilizar a mídia. A alegação de que houve apenas preocupação com gastos públicos foi considerada uma distorção.
2. Admissão de interferência militar pós-derrota
Pela primeira vez de forma formal perante o STF, o ex-presidente admitiu que conversou com as Forças Armadas sobre alternativas ao resultado das eleições. Ele declarou que houve encontros para discutir “saídas constitucionais”, mas que “em poucas reuniões, abandonamos qualquer possibilidade de ação”. A fala diverge do tom de sua defesa até então, que buscava descredibilizar as declarações de Mauro Cid e afastar a ideia de articulação golpista.
3. Legalidade deturpada e uso indevido da Constituição
Bolsonaro utilizou o argumento de que agiu “dentro da Constituição” ao discutir estado de sítio e outras medidas com militares. No entanto, especialistas ouvidos pela imprensa afirmam que ele distorceu conceitos legais para justificar a tentativa de impedir a posse de Lula. As medidas citadas, como o estado de sítio, exigem contextos específicos e autorização do Congresso Nacional, o que não existia na época.
4. Tentativa de se descolar dos atos golpistas
Ao comentar os acampamentos de apoiadores em frente a quartéis, Bolsonaro chamou os manifestantes de “malucos” e disse que não incentivou “nada de anormal”. No entanto, há registros de falas públicas do ex-presidente elogiando e encorajando os atos que culminaram nos ataques de 8 de janeiro. Ele também citou o AI-5, medida autoritária da ditadura, como exemplo de ideias que circulavam entre os radicais.
5. Evasivas sobre fraudes nas urnas eletrônicas
Perguntado por Moraes sobre as alegações de fraude nas eleições, Bolsonaro evitou apresentar provas e afirmou apenas que outros políticos também já criticaram o sistema eletrônico de votação. Citou declarações de Flávio Dino e Carlos Lupi e mencionou relatórios de peritos com críticas ao processo eleitoral, mas não respondeu diretamente sobre sua motivação para contestar o resultado das urnas.
O depoimento, ocorrido em sessão com a presença do procurador-geral da República Paulo Gonet e do ministro Luiz Fux, foi o primeiro de Bolsonaro como réu diante de Alexandre de Moraes. A defesa do ex-presidente deve apresentar novos argumentos, mas o conteúdo da oitiva reforça a gravidade das acusações que pesam contra ele no inquérito das fake news e da tentativa de golpe.