Lula inicia visita oficial à França com foco em acordo UE-Mercosul e crises globais
Primeira visita de Estado de um presidente brasileiro à França em mais de uma década
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou nesta quinta-feira (5) uma visita de Estado à França, a primeira de um chefe de governo brasileiro ao país desde 2012. A agenda inclui encontros com o presidente francês Emmanuel Macron e pautas bilaterais e internacionais como o acordo entre União Europeia e Mercosul, os conflitos na Ucrânia e em Gaza, e o fortalecimento da relação diplomática entre Brasil e França.
Recepção com honras militares e banquete no Palácio do Eliseu
Lula foi recebido por Macron no Hôtel des Invalides, em Paris, onde ambos participaram de cerimônia oficial com honras militares. Em seguida, os dois presidentes participaram de uma entrevista coletiva e de um almoço de trabalho no Palácio do Eliseu. À noite, um banquete em homenagem ao líder brasileiro foi oferecido por Macron e sua esposa Brigitte, com a presença de Rosângela Lula da Silva, primeira-dama do Brasil.
Parceria estratégica retomada após anos de distanciamento
A visita simboliza a retomada da parceria estratégica firmada em 2006 e interrompida durante o governo Jair Bolsonaro. Em março de 2024, Macron visitou o Brasil, incluindo uma passagem pela Amazônia e pelos estaleiros responsáveis pela construção dos submarinos do tipo Scorpène, fornecidos pela França à Marinha brasileira.
Temas bilaterais incluem meio ambiente, defesa, energia e tecnologia
Segundo Lula, a visita busca “fortalecer” os laços entre os dois países com novos acordos nas áreas de meio ambiente, tecnologia, defesa, energia e saúde. O presidente publicou em sua rede social X que a relação entre Brasil e França pode ser ampliada com cooperação estratégica nesses setores.
França quer apoio do Brasil em conflitos na Ucrânia e Gaza
Além da pauta econômica, a visita tem caráter geopolítico. Lula, que exerce atualmente a presidência pro tempore do Brics, é visto pela França como uma figura-chave para influenciar negociações internacionais. O governo francês espera apoio do Brasil na conferência da ONU sobre o conflito israelense-palestino, prevista para meados de junho em parceria com a Arábia Saudita.
“Só haverá paz quando a gente tiver consciência de que o povo palestino tem direito ao seu Estado”, afirmou Lula na terça-feira, classificando a situação em Gaza como “genocídio”.
Relação do Brasil com a Rússia também entra em pauta
Sobre a guerra na Ucrânia, a França pretende apresentar a Lula seu diagnóstico: uma parte agredida disposta à paz e outra, o agressor, que rejeita o diálogo. Lula, no entanto, mantém diálogo com Moscou — ele esteve na Rússia em maio, onde se encontrou com Vladimir Putin durante as comemorações do Dia da Vitória sobre o nazismo.
Resistência francesa ao acordo UE-Mercosul marca encontro
Outro tema central da visita é o acordo entre União Europeia e Mercosul, ao qual a França se opõe “em sua forma atual”. Agricultores franceses exigem que Macron mantenha firmeza contra o texto e manifestaram insatisfação às vésperas da chegada de Lula.
“É realmente um grito de alerta que lançamos para poder trabalhar e garantir receitas decentes”, declarou Alain Carre, da associação AIBS.
A França lidera o grupo de países que impõem resistência ao acordo, mesmo com pressões dentro da UE para sua aprovação como resposta às tarifas comerciais dos Estados Unidos sob o governo Trump.
Lula participa de sessão na Academia Francesa e evento da ONU
Durante sua agenda em Paris, Lula também participará de uma sessão restrita na Academia Francesa, uma das mais antigas instituições culturais do país. A visita de cinco dias inclui ainda a participação do presidente brasileiro na cúpula da ONU sobre os oceanos, marcada para segunda-feira (9), em Nice. O evento antecede a COP30, que será realizada em Belém do Pará em novembro.