Lobista investigado na “Farra do INSS” gastou quase R$ 1 milhão em joias de luxo em seis meses, aponta Receita Federal
O lobista Danilo Berndt Trento, investigado no esquema conhecido como “Farra do INSS”, gastou quase R$ 1 milhão em joias de luxo em apenas seis meses, de acordo com documentos sigilosos da Receita Federal enviados à CPMI do INSS no Congresso Nacional.
Os gastos ocorreram entre dezembro de 2024 e junho de 2025, período que coincide com o avanço das investigações da Operação Sem Desconto, conduzida pela Polícia Federal, que apura fraudes milionárias em descontos ilegais em aposentadorias e pensões do INSS.
Joias avaliadas em centenas de milhares de reais
Segundo a Receita, Trento comprou:
- Um anel de ouro com turmalina paraíba, avaliado em R$ 380 mil;
- Um par de brincos cravejados, por R$ 361 mil;
- Uma pulseira de luxo, no valor de R$ 215 mil.
O item mais caro, o anel com turmalina paraíba, foi adquirido após a deflagração da operação policial. A pedra, originária do sertão da Paraíba, é uma das gemas mais raras e valiosas do mundo, podendo alcançar até US$ 100 mil por quilate devido ao seu tom verde-azulado e à presença de cobre em sua composição.
Padrão de vida incompatível com rendimentos declarados
Além das joias, Trento mantinha um estilo de vida de alto luxo.
- Em fevereiro de 2023, comprou uma aliança Cartier por R$ 79,5 mil;
- No fim de 2024, adquiriu cinco camisas Hugo Boss por R$ 9,5 mil;
- Em janeiro de 2025, pagou R$ 1,1 mil em um jantar no B Hotel, em Brasília.
A Receita Federal identificou também transferências de R$ 1,095 milhão enviadas pelo empresário Maurício Camisotti a Trento — apontado como um dos principais articuladores do esquema de descontos indevidos em benefícios previdenciários.
Movimentações suspeitas e indícios de lavagem de dinheiro
Relatórios de inteligência financeira mostram que, em 2025, Trento movimentou:
- R$ 12,6 milhões em uma conta bancária;
- R$ 1,7 milhão em outra.
As movimentações chamaram atenção por apresentarem entrada e saída quase simultânea de valores, padrão típico de operações de lavagem de dinheiro.
A principal origem dos recursos seria a empresa T5 Participações LTDA, que transferiu R$ 11,6 milhões ao lobista.
Empresa de fachada com histórico suspeito
A T5 Participações foi fundada em março de 2020 como uma hamburgueria chamada Burgueragem, com capital inicial de apenas R$ 20 mil.
Em novembro de 2022, Trento comprou a empresa, elevou o capital para R$ 1 milhão e mudou a razão social.
Dois anos depois, em março de 2024, ele deixou o quadro societário e transferiu o controle para Francine da Rosa, moradora de Tubarão (SC), que havia sido beneficiária do Bolsa Família e Auxílio Brasil até 2022 e vivia em condições simples.
Francine agora aparece como única sócia da empresa que movimentou milhões de reais em favor do lobista — o que reforça a tese de interpostas pessoas usada para ocultar a origem do dinheiro.
Trento já havia sido investigado na CPI da Covid
Danilo Trento já era conhecido das autoridades. Em 2021, foi investigado pela CPI da Covid-19, no Senado, por suspeita de corrupção e intermediação de contratos durante a pandemia, quando atuava como lobista ligado a empresas com contratos no Ministério da Saúde.
Agora, volta a ser alvo central de uma investigação que apura fraudes em descontos previdenciários, empresas de fachada e lavagem de recursos públicos.
Receita envia documentos à CPMI do INSS
Os relatórios da Receita Federal foram enviados oficialmente à CPMI do INSS, que deve usar os dados para pedir novas quebras de sigilo e convocar Trento e Camisotti para depoimento.
A investigação avança sobre uma rede de entidades e sindicatos suspeitos de operar o esquema, incluindo o Sindnapi, ligado a Frei Chico, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
