Professores de Salvador completam 60 dias de greve e impasse com prefeitura segue sem solução
Greve dos professores da rede municipal de Salvador atinge 60 dias. Impasse com prefeitura deixa 135 mil alunos sem aulas e provoca embate jurídico e político.
Categoria cobra pagamento do piso nacional; prefeitura alega falta de retorno e Justiça mantém decisão de ilegalidade da paralisação
A greve dos professores da rede municipal de Salvador completou 60 dias nesta terça-feira (9), sem acordo entre a categoria e a prefeitura. Desde o início do movimento, iniciado em 6 de maio, 135 mil estudantes estão sem aulas, 426 escolas permanecem fechadas e mais de 8.400 professores seguem afastados das salas de aula.
A principal reivindicação dos educadores é o cumprimento do piso salarial nacional de R$ 4.867,77. A solicitação formal foi enviada em 17 de fevereiro pela APLB-Sindicato, que representa a categoria. Segundo os trabalhadores, a prefeitura não apresentou propostas concretas de reajuste. Já a administração municipal alega que tentou diálogo, mas não teve retorno da classe.
Greve declarada ilegal pela Justiça e mantida no STF
Logo no início da paralisação, em 7 de maio, o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) considerou o movimento ilegal e determinou a volta imediata dos professores ao trabalho, com multa diária de R$ 15 mil em caso de descumprimento. Em 22 de maio, o TJ-BA aumentou o valor da multa para R$ 100 mil.
A APLB recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF), mas o ministro Dias Toffoli manteve a decisão do TJ-BA, reafirmando a ilegalidade da greve e exigindo o retorno imediato da categoria às atividades.
Cortes salariais e protestos acirram clima político
Além das decisões judiciais, professores denunciaram cortes salariais feitos pela prefeitura como represália à greve.
“Cortaram metade do salário no mês passado. Disseram que só vão pagar quando acabar a greve, se houver reposição”, afirmou uma professora que preferiu não se identificar.
A disputa ganhou contornos políticos. Em 2 de julho, durante o cortejo cívico da Independência da Bahia, a categoria protestou com faixas e cartazes. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se posicionou de forma simbólica ao erguer um cartaz com a frase “Prefeito, nos devolva o plano e pague o piso”, em cobrança direta ao prefeito Bruno Reis (União Brasil).
Questionado sobre a situação, o prefeito minimizou a crise: “Que crise? Não tem crise nenhuma. A cidade está bem e não poderia estar melhor”, declarou durante o evento.
Cronologia da greve
- 17 de fevereiro: APLB envia solicitação de reajuste à Secretaria Municipal da Educação (Smed).
- 12 de março: Protesto dos professores em frente à Smed.
- 6 de maio: Início da greve.
- 7 de maio: TJ-BA decreta ilegalidade da greve e multa de R$ 15 mil.
- 22 de maio: Multa é elevada para R$ 100 mil. Câmara tenta votar reajuste e sindicalistas invadem o auditório; vereadores são agredidos.
- 27 de maio: Bruno Reis nega falta de diálogo com os professores.
- 11 de junho: STF mantém decisão do TJ-BA e considera greve ilegal.
- 2 de julho: Manifestação de professores durante o cortejo do 2 de Julho, com apoio simbólico do presidente Lula.
A greve continua sem previsão de encerramento, com a tensão entre a prefeitura e os professores cada vez mais intensa.
