Vazamento de entrevista de Lula na TV Record causa desconforto no governo
Reações nos bastidores do governo
Integrantes do governo federal expressaram descontentamento, nesta quarta-feira (17), com o vazamento de trechos da entrevista do presidente Lula (PT) à TV Record antes de sua divulgação oficial. A informação foi divulgada por uma agência da qual a entrevistadora é sócia, gerando indignação entre membros da equipe presidencial. Um colaborador próximo a Lula considerou o episódio “absurdo”, uma avaliação que refletiu a opinião geral entre os membros do governo.
Impacto econômico e intervenção de Haddad
A situação foi tratada com seriedade pela equipe econômica do governo, levando o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a se pronunciar publicamente para conter a volatilidade no mercado de câmbio e na Bolsa de Valores. Apesar do descontentamento interno, não houve críticas públicas por parte do governo. A Secretaria de Comunicação do governo Lula foi contatada pela reportagem, mas não se manifestou sobre o assunto.
Detalhes da entrevista vazada
Lula concedeu a entrevista à Record na manhã de terça-feira (16), no Palácio do Planalto. A íntegra da entrevista estava programada para ser exibida à noite, com trechos sendo divulgados ao longo do dia pela emissora. No entanto, por volta das 13h, uma corretora distribuiu aos investidores uma declaração de Lula mencionando a necessidade de convencê-lo sobre cortes de gastos e a possibilidade de não cumprir a meta fiscal, apesar do compromisso com o arcabouço fiscal.
Divulgação pela corretora e reações
A corretora BGC foi responsável pela divulgação, atribuindo o texto à Capital Advice, uma agência de análise política cofundada por Renata Varandas, a jornalista que conduziu a entrevista. A Record divulgou um trecho da entrevista apenas às 13h48, pelo portal R7, após a reação inicial do mercado. A cotação do dólar disparou e analistas avaliaram que as declarações de Lula geraram incertezas fiscais. Ao final do dia, a moeda recuou, fechando em baixa, enquanto a Bolsa também refletiu a volatilidade causada pelas declarações.
Resposta da Capital Advice e da Record
A Capital Advice não respondeu aos questionamentos da reportagem, e Renata Varandas também não se manifestou. A Record, em nota, afirmou que tomaria providências após investigar o vazamento e esclareceu que desconhecia a ligação da repórter com a agência até a divulgação do release. A emissora enfatizou que condena vazamentos de informações, especialmente com recortes parciais de entrevistas, e que tomará medidas cabíveis após a apuração dos fatos.
Posicionamento da Capital Advice
Em seu site, a Capital Advice se apresenta como uma referência em análise política, com clientes como corretoras e gestores de fundos. A empresa destaca sua experiência de 20 anos em cobertura política e sua rede de fontes nos três poderes. A entrevista completa foi ao ar às 19h55, mas trechos já haviam sido divulgados anteriormente, impactando o mercado financeiro.
Declarações de Lula e impacto no mercado
Os efeitos das declarações de Lula começaram a ser sentidos no mercado por volta das 12h20, quando a cotação do dólar começou a subir, atingindo a máxima da sessão às 13h40. Às 13h48, a TV Record divulgou um trecho da entrevista, e o dólar voltou a cair. No final do dia, a moeda fechou em baixa. Na entrevista, Lula afirmou que não é obrigado a cumprir a meta fiscal se houver “coisas mais importantes para fazer”. Ele destacou que a meta de déficit zero não está rejeitada e que fará o necessário para cumprir o arcabouço fiscal.
Esclarecimentos de Haddad
À tarde, o ministro Haddad declarou que as falas de Lula estavam fora de contexto e que outros trechos da entrevista demonstravam o compromisso do governo com o arcabouço fiscal. Lula enfatizou que a meta fiscal é uma questão de visão e que o país não enfrenta problemas se o déficit for ligeiramente acima do previsto, desde que esteja crescendo.
Possível bloqueio no orçamento
De acordo com Haddad, pode haver bloqueio e contingenciamento no orçamento deste ano, conforme o relatório bimestral de receitas e despesas a ser publicado na próxima segunda-feira (22). Como a Folha de São Paulo mostrou, o vazamento da entrevista ainda não entrou no radar da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) por não envolver falhas de divulgação de informações reguladas pela autarquia e por não haver indícios concretos de manipulação do mercado.
Possíveis ações da CVM
O economista e advogado Leandro Azzoni explicou que é necessária uma evidência adicional de atividade ilegal ou danos significativos ao mercado para justificar uma ação regulatória. A entrevista de Lula continha declarações sobre metas fiscais e gastos públicos, mas ainda não há indícios suficientes para uma intervenção da CVM.