Estratégia populista em tempos de crise
Era um dia marcante, 13 de agosto de 1992, quando Fernando Collor, então presidente, diante de um cenário tumultuado por corrupção e crise econômica, fez um apelo ao povo brasileiro. Com um discurso fervoroso em Brasília, ele convidou a nação a se vestir de verde e amarelo, num gesto de apoio ao seu governo, visando afastar o espectro do impeachment.
“No próximo domingo estaremos mostrando onde está a verdadeira maioria”, declarou Collor, sem prever que sua convocação resultaria em uma massiva manifestação de repúdio, culminando em sua renúncia meses após.
Mobilização nas redes e nas ruas
Avançamos no tempo para testemunhar Jair Bolsonaro (PL), ex-presidente, revivendo táticas similares neste domingo (25). Enfrentando investigações e acusado de tentativas de golpe, Bolsonaro busca o apoio popular como escudo contra possíveis consequências adversas.
“Ele quer manter seu eleitorado mobilizado para mostrar que tem apoio popular, que as pessoas acreditam nele e que colocá-lo na cadeia pode incendiar o país”, analisa Caio Marcondes Barbosa, pesquisador do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania da USP.
Em vídeo divulgado a apoiadores, Bolsonaro os conclamou a vestir verde e amarelo e disse: “Para mostrarmos ao Brasil e ao mundo a nossa união”.
Riscos e desdobramentos
A estratégia de Bolsonaro, focando na Avenida Paulista como palco único para essa demonstração, carrega em si riscos inerentes. Uma adesão menor que a esperada pode, paradoxalmente, evidenciar fragilidades em vez de força. Além disso, a orientação para que manifestantes evitem ataques diretos a figuras do Supremo sinaliza uma tentativa de moderar o tom das críticas, ainda que mantenha a narrativa de vitimização.
Perspectivas e precedentes
Apesar das intenções declaradas de defesa da democracia, o ato organizado por Bolsonaro visa, sobretudo, fortalecer sua posição política. A história recente nos lembra das consequências de estratégias semelhantes e dos delicados equilíbrios no jogo político. “É uma aposta arriscada”, conclui Barbosa, enquanto Couto ressalta a capacidade de Bolsonaro de adaptar seu discurso diante das adversidades.