Malafaia põe STF sob pressão de religião em investigações contra Bolsonaro
Utilização da posição religiosa como influência
“Tocar em um líder religioso não é uma coisa fácil. A religião que eu sou representa 35% do povo brasileiro. Isso é um negócio muito gigante.” Essas foram as palavras do pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, durante uma entrevista à youtuber Antonia Fontenelle no fim de fevereiro. Malafaia destaca a estratégia de usar seu status de líder religioso para intimidar o STF nas investigações que envolvem o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Manifestações financiadas e ameaças de intensificação
Após financiar uma manifestação na Paulista que admitiu ter sido planejada com a finalidade de pressionar o STF, Malafaia organiza outro ato pró-Bolsonaro em Copacabana, no Rio, com ameaças de intensificar o tom. Especialistas consideram preocupante a utilização da religião para influenciar decisões judiciais, testando a democracia brasileira.
Deslegitimação do STF e influência popular
A estratégia de Malafaia anda lado a lado com a deslegitimação do STF, sob o argumento de que “Supremo é o povo”, uma ideia frequentemente expressa pelo pastor. “Se você botar o povo na rua, eles vão pensar umas três vezes [antes de prendê-lo]. E, se isso acontecer, o negócio vai ser feio”, disse Malafaia a Bolsonaro para convencer o político a promover a manifestação na Paulista, como relatado pelo pastor em fevereiro.
Posicionamento constitucional e ameaças
Ataques ao ministro Alexandre de Moraes, a quem Malafaia chama de ditador de toga, e a defesa de que o Judiciário deve observar a vontade do povo também marcam seu discurso. “O povo é o Supremo poder de uma nação. Nada é superior a nível de poder em uma nação do que o povo. Quando um povo se manifesta, se submeta o poder Judiciário, o Legislativo e o Executivo”, afirmou.
Reações e críticas ao discurso de Malafaia
Segundo especialistas, o discurso de Malafaia reflete tendências autoritárias que surgiram no pós-Primeira Guerra e foram utilizadas por regimes totalitários na Europa. Luis Gustavo Teixeira, doutor em ciência política, critica a postura de Malafaia como uma “clara violação da democracia”. Por outro lado, Henderson Fürst, professor de direito constitucional, lembra que a função do Supremo é ser contramajoritária, defendendo que a corte deve se guiar pela Constituição, mesmo contra a vontade popular.
Defesa e justificativas de Malafaia
Em resposta às críticas, Malafaia afirmou que ter consciência de que o povo é o supremo poder não é prejudicial à democracia, mas sim àqueles que querem calar a população. Ele também reafirmou que as ameaças de divulgar vídeos em caso de prisão sua ou de Bolsonaro são medidas de autodefesa, negando que sejam incentivos a atos contra a ordem pública.