Família Umbuzeiro: O Clã Acusado de Dominar o Tráfico de Maconha no Nordeste
A história da família Umbuzeiro é marcada por acusações de liderança em um vasto esquema de tráfico de maconha na região Nordeste do Brasil. Segundo a Polícia Federal, o clã é apontado como o responsável por criar um império ilegal através do cultivo e distribuição da droga, com ramificações em diversos estados da região.
A investigação teve um marco significativo durante o casamento de Larissa Gabriela Lima Umbuzeiro, filha do suposto líder, Rener Manoel Umbuzeiro. A ausência de Rener na cerimônia levantou suspeitas, já que ele estava sendo investigado pelas autoridades. A partir desse ponto, a PF intensificou suas averiguações sobre as atividades da família.
Rener foi indiciado como traficante de drogas e, posteriormente, veio a falecer durante uma operação policial em sua fazenda na região de Morpará, no Vale do São Francisco. A esposa de Rener, Niedja Maria de Lima Souza, e outros membros da família também foram presos sob acusações de lavagem de dinheiro.
A investigação revelou que a família Umbuzeiro teria começado suas atividades criminosas ainda em Pernambuco, há mais de 30 anos, antes de se estabelecer em Feira de Santana, Bahia. O motivo exato para a mudança de localidade ainda não foi esclarecido, mas a proximidade com o Polígono da Maconha, uma área propícia ao cultivo da planta, pode ter influenciado na decisão.
Além das atividades de tráfico, a família aparentava uma vida de luxo, ostentando imóveis de alto padrão e participando de eventos sociais. No entanto, a origem dessa riqueza não condizia com as rendas declaradas pelas autoridades.
O esquema de tráfico da família Umbuzeiro envolvia diversas etapas, desde o cultivo da maconha até a distribuição em grandes centros urbanos do Nordeste. A PF estima que os bens bloqueados durante a operação podem chegar a R$ 50 milhões, incluindo imóveis e contas bancárias.
As investigações continuam em andamento, e os membros da família Umbuzeiro aguardam julgamento enquanto negam as acusações. A história da família lança luz sobre as complexas redes criminosas que operam no Brasil, especialmente nas regiões mais vulneráveis do país.
“Rener não aparecia, não buscava participar de holofotes. Ficava bem resguardado no interior, nas fazendas. Inclusive, teve o casamento da própria filha e ele não foi porque sabia que estava sendo investigado pela Polícia Federal”, diz Gordilho. “O mais diferente é a tentativa de buscar uma via de normalidade dentro do contexto da sociedade, sendo que o ganho financeiro, ao que tudo indica, veio do tráfico de drogas”, acrescenta.
Ele estava sozinho em uma fazenda na região de Morpará, no Vale do São Francisco, quando a equipe da polícia chegou ao local. Ainda de acordo com o delegado, Rener atirou três vezes contra os policiais usando uma arma que não era legalizada. Ele morreu no confronto.
As investigações começaram em 2019, quando Rener entrou no radar da PF depois de um flagrante.
“Quase uma tonelada de droga foi apreendida e, pela investigação, foi possível afirmar que ele era o responsável pela carga”, acrescenta o delegado.
Mas a trajetória da família começou muito antes: segundo as investigações, eles se transferiram para Feira de Santana no início dos anos 2000, vindos do sertão pernambucano. A mudança pode estar diretamente ligada aos desdobramentos do Polígono da Maconha, um quadrilátero imaginário que representa uma região com mais de 20 cidades de Pernambuco e da Bahia (veja mais abaixo).
O cultivo de maconha teria entrado na vida deles há mais de 30 anos, ainda em Pernambuco. De lá, eles decidiram vir para a Bahia, para onde outros integrantes do clã se transferiram. Ainda assim, a polícia acredita que havia ramificações no estado, especialmente em Ibimirim, terra natal de Rener e Niedja. A cidade no semiárido fica a mais de 300 quilômetros de Recife (PE) e tem pouco mais de 26 mil habitantes, segundo o último Censo.
O motivo para terem escolhido especificamente Feira de Santana não é conhecido. Mas a opção pela maconha, para o delegado Diego Gordilho, não destoa das práticas da região.
“É pela questão da localidade, que é inerente à região. Tanto que existe o Polígono da Maconha, região propícia ao plantio de cannabis, em termos do solo. Na Bahia, é uma região que vai se aproximando do estado de Pernambuco”, explica.
O inquérito apontou que a organização criminosa teria chegado a se expandir também para Alagoas e Paraíba em diferentes momentos, com o objetivo de dificultar as investigações.
“A autonomia dessa família na área do tráfico é muito expressiva, tendo inclusive incentivado diversos outros pequenos traficantes em se tornarem (sic) traficantes de maior potencial, a exemplo de alguns que eram apenas transportadores a serviço dos Umbuzeiros e hoje se tornaram traficantes independentes, sem mesmo deixarem de se relacionar com a família”, diz a petição criminal com visualização pública.
Ainda segundo a investigação, eles seriam responsáveis por todo o ciclo da produção de maconha: plantio, colheita, prensagem, armazenagem, transporte e entrega. De Feira de Santana, além de aumentar o patrimônio, conseguiriam comandar os negócios e enviar a droga para capitais e regiões metropolitanas do Nordeste.
Ao todo, houve bloqueio de bens de R$ 50 milhões. A Justiça Federal também determinou o sequestro de imóveis em Feira de Santana e Salvador, além de carros de luxo e contas bancárias em nome do casal e de outros membros da família.
Os bens ficarão bloqueados até o julgamento, quando o juiz decidirá se serão ou não confiscados. Caso sejam, irão para o Fundo Nacional Antidrogas (Funad).
Em entrevista, a advogada de defesa dos Umbuzeiros, Cilene Rocha, contesta as acusações, argumentando que não há provas concretas que liguem a família ao tráfico de drogas. Ela afirma que a investigação é baseada em suposições e que a família é vítima de preconceito por ser considerada “diferente” pela sociedade.
Por outro lado, o delegado Diego Gordilho ressalta a complexidade das investigações, destacando que o grupo familiar possuía uma estrutura organizada e bem estabelecida para o tráfico de entorpecentes. Ele destaca ainda que a atuação da família Umbuzeiro contribuiu para o fortalecimento do tráfico em toda a região Nordeste.
A história da família Umbuzeiro revela as intricadas teias do tráfico de drogas no Brasil, evidenciando a capacidade de grupos criminosos em se estabelecerem e prosperarem em meio às vulnerabilidades sociais e econômicas do país. As investigações continuam em andamento, e o desfecho desse caso será fundamental para entendermos melhor a dinâmica do crime organizado no Brasil.
A advogada Cilene Rocha, responsável pela defesa do casal, não quis comentar o caso. Procurada também, a Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) não se pronunciou.
A defesa do casal informou que ainda não teve acesso aos autos do processo, e, por isso, não poderia se posicionar.
O Polígono
A dinâmica do negócio da família Umbuzeiro está relacionada ao Polígono da Maconha, uma área onde a produção ilegal da droga é predominante. Embora as fazendas da família não estejam localizadas dentro do polígono, a região onde estão situadas é propícia para o cultivo de cannabis. Essa dispersão das atividades criminosas demonstra uma estratégia de descentralização adotada pelos traficantes, buscando evitar a repressão das autoridades.
O histórico do Polígono da Maconha remonta a décadas passadas, quando a região se tornou um importante polo de produção da droga no Brasil. A repressão por parte das forças de segurança, iniciada na década de 1930, intensificou-se ao longo dos anos, levando os produtores a migrarem para áreas mais remotas e menos visadas pelas autoridades.
Atualmente, a maconha produzida no Polígono abastece principalmente o mercado nordestino, sendo destinada a grandes centros urbanos da região. No entanto, parte da droga também é enviada para outras regiões do país, evidenciando a dimensão nacional do problema do tráfico de drogas no Brasil.
A atuação da família Umbuzeiro representa um novo modelo de organização criminosa na região, fugindo do padrão tradicionalmente observado entre os produtores de maconha. Seu envolvimento em todas as etapas do processo de produção e distribuição da droga demonstra uma alta capacidade de articulação e controle sobre a atividade ilegal.