Tarifaço dos Estados Unidos pode desencadear crise econômica na Bahia
Tarifaço dos EUA pode causar perdas bilionárias e elevar o desemprego na Bahia. Entenda os impactos na economia do estado.
Medida americana já afeta o mercado baiano
Antes mesmo da aplicação oficial das tarifas de 50% sobre as exportações brasileiras para os Estados Unidos (EUA), os reflexos já eram sentidos no mercado interno. Agora, com a medida em vigor, a preocupação se intensifica entre representantes da balança comercial baiana e setores produtivos do estado.
Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial da Bahia, com destaque na importação de produtos como petróleo, ferro, celulose e grãos. O novo cenário traz o risco de impactos profundos e duradouros, ameaçando diversas cadeias produtivas e desencadeando prejuízos financeiros expressivos.
Efeito dominó na economia do estado
Além da perda de contratos e da paralisação de remessas de produtos prontos para exportação, a Bahia já sente os primeiros efeitos da medida. A previsão é de um efeito cascata que começa com a queda na produção e atinge diretamente pequenos e grandes produtores, podendo comprometer empregos e rendas em diversos setores.
1. Fruticultura já sofre perdas expressivas
A Bahia estava preparada para exportar cerca de 2.500 contêineres de manga do Vale do São Francisco neste mês. Mesmo que a fruta não esteja na lista oficial de produtos tarifados, sua valorização sofreu impactos diretos, causando apreensão no setor.
“Já está havendo impacto negativo, porque com as mangas, por exemplo, já está tendo uma perda de preço e algumas demandas, porque é um momento de exportação. Esperamos que as tarifas sejam revistas, mas teremos que construir pontes ao invés de destruir. Temos que ver uma forma para se adequar”, declarou o secretário estadual de Agricultura, Pablo Barrozo.
A produção de manga da Bahia representa de 50% a 60% das exportações para os Estados Unidos. Com a colheita prevista entre agosto e setembro, não há tempo hábil para buscar mercados alternativos.
“Não dá para esperar resolver o problema daqui a 60/90 dias, porque já passou o ponto da colheita, e já houve a perda do produto. Então, as coisas precisam ser resolvidas rapidamente. O que mais preocupa é a questão da fruticultura”, afirmou Humberto Pitanga, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (Faeb).
A projeção de perdas no setor de alimentos pode chegar a US$ 71 milhões (aproximadamente R$ 400 milhões), sendo uma das maiores entre os produtos básicos.
2. Retração nas exportações baianas
A Bahia respondeu por 8,3% das exportações brasileiras no primeiro semestre de 2025. A Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI Bahia) publicou nota alertando para os efeitos negativos das tarifas em setores produtivos que haviam alcançado recordes de exportação.
O aumento das tarifas reduz a competitividade dos produtos baianos nos Estados Unidos, comprometendo volumes exportados, empregos e renda.
Em 2024, as exportações da Bahia totalizaram US$ 11,9 bilhões. A estimativa de queda de US$ 643,5 milhões representa uma redução de 5,4% no volume total.
Utilizando a técnica de multiplicadores de insumo-produto, a SEI calculou que o impacto pode gerar perdas de até R$ 1,8 bilhão no Produto Interno Bruto (PIB) estadual, o que corresponde a 0,38% do total.
A lista de produtos afetados pelas novas tarifas inclui:
- Laranja
- Petróleo
- Metal
- Café
- Ferro
- Soja
- Celulose
3. Prejuízo bilionário no PIB da Bahia
A queda nas exportações, segundo a metodologia da SEI, poderá causar perdas bilionárias no PIB da Bahia. Com a retração na demanda final de determinados setores, o impacto direto, indireto e induzido pode chegar a R$ 1,8 bilhão em toda a economia estadual.
4. Risco de demissões e desemprego em massa
O efeito dominó ameaça provocar uma onda de demissões, especialmente entre os mais de três mil fruticultores e exportadores do Vale do São Francisco. O temor é de perdas de produção e de empregos diretos e indiretos na região.
Juliana Inhasz, professora de Economia da Insper, alerta:
“Se a gente perde um parceiro comercial importante, podemos gerar um impacto significativo nessa indústria, gerando desemprego, alocação ineficiente de recursos, uma economia que eventualmente vai crescer menos.”
A taxa de desemprego no Brasil chegou a 5,8% no trimestre encerrado em junho de 2025, o menor índice desde 2012, segundo a Pnad Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, a continuidade das tarifas pode reverter esse cenário nos próximos meses.
5. Dificuldade em acessar mercados alternativos
A busca por novos mercados, principalmente na Ásia, tem sido uma estratégia nacional para mitigar perdas. Contudo, para produtos perecíveis como a manga, essa transição é limitada.
“Um café naturalmente vai abrir outros mercados porque é uma commoditie que está ocupando mercados super importantes como os asiáticos estão começando a consumir e isso vai gerar uma demanda mundial absurda por café. A nossa celulose também tem mercados super importantes na Ásia e na Europa para ocupar, mas a fruticultura não, até pela emergência de solução, a urgência de se ter um mercado, não dá para se construir um mercado recado tão rapidamente para colocar”, destacou Humberto Pitanga.
Além das dificuldades logísticas, há também um cenário de retração nos investimentos. Segundo o economista Augusto César, a instabilidade afasta investidores estrangeiros e prejudica a geração de emprego.
“E quando o dólar sobe, o efeito chega ao bolso do consumidor: encarecimento da cesta básica, combustíveis e outros produtos essenciais. A inflação corrói o poder de compra das famílias e acentua desigualdades”, completou.
