Suspensão de exportações aos EUA pode reduzir preço da carne bovina no Brasil
Com tarifa dos EUA, frigoríficos paralisam exportações e aumentam oferta de carne bovina no Brasil, pressionando preços para baixo.
Frigoríficos paralisam produção para os EUA e redirecionam carga ao mercado interno
A decisão dos Estados Unidos de aplicar uma tarifa extra de 50% sobre produtos brasileiros já começa a provocar impactos no setor de carnes. Frigoríficos de Mato Grosso do Sul interromperam a produção destinada ao mercado norte-americano, e parte da carne bovina começou a ser redirecionada ao mercado interno, o que pode resultar em queda de preços no Brasil nas próximas semanas.
Segundo Alberto Sérgio Capucci, vice-presidente do Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados de Mato Grosso do Sul (Sincadems), a produção que estava pronta para embarque foi desviada.
“Se você produz específico para aquele país e não é embarcado, você deve embarcar para outros mercados. Aquela produção que iria para os EUA está sendo direcionada para outros países e também para o mercado interno”, afirmou.
Mais oferta pode aliviar o preço ao consumidor no curto prazo
Com a disponibilidade maior de carne bovina no Brasil, a expectativa de especialistas é de que o preço caia temporariamente para o consumidor. O consultor em comércio exterior Aldo Barrigosse destaca:
“Vamos ter mais oferta de carne bovina aqui no nosso mercado. Vai dar para fazer um churrasco e uma boa carne de panela.”
No entanto, ele alerta que o efeito pode ser passageiro caso se chegue a um novo acordo comercial.
Frigoríficos e governo buscam alternativas internacionais
Para minimizar os prejuízos, representantes do setor e o governo de Mato Grosso do Sul já negociam alternativas de exportação. Países como Chile e Egito aparecem como opções viáveis para redirecionar os embarques. Ainda assim, a adaptação a novos mercados pode levar tempo e aumentar a pressão sobre o mercado interno no curto prazo.
Mercado asiático e Oriente Médio ganham força como saída para a carne brasileira
Fernando Henrique Iglesias, analista do Safras & Mercados, avalia que, mesmo com a queda nas exportações aos EUA, os frigoríficos não devem inundar o mercado interno, mas sim buscar outros destinos internacionais.
“A nossa sorte é que tem mais de 100 países comprando carne do Brasil”, destacou.
Ele também lembrou da abertura de um escritório da Associação Brasileira da Indústria de Carnes (Abiec) na China e do retorno das compras do Vietnã, o que fortalece a presença brasileira na Ásia.
Japão e Coreia do Sul podem entrar na rota de exportação
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou na última semana que o Brasil deve intensificar negociações com novos mercados.
“Vou reforçar essas ações, buscando os mercados mais importantes do Oriente Médio, do Sul Asiático e do Sul Global, que têm grande potencial consumidor e podem ser uma alternativa para as exportações brasileiras”, disse o ministro.
Exportadores preocupados com cargas já enviadas aos EUA
A paralisação nos frigoríficos brasileiros foi confirmada por Roberto Perosa, presidente da Abiec. “Com essa taxação, se torna inviável a exportação de carne bovina aos EUA, que é o nosso segundo maior comprador”, afirmou. Ele ainda expressou preocupação com as cargas que já estão em trânsito:
“Temos cerca de 30.000 toneladas que estão no porto ou nas águas. É um volume em torno de 150, 160 milhões de dólares que já estão produzidos e a caminho dos EUA.”
Atualmente, os Estados Unidos são responsáveis por 12% das exportações brasileiras de carne bovina, atrás apenas da China, que representa cerca de 48% das vendas, conforme dados do Ministério da Agricultura.
