Carrinho de Compras das Famílias Brasileiras Está Mais Cheio com Inflação Baixa e Menor Desemprego
As famílias brasileiras estão colocando mais produtos nos carrinhos de compra. Nos últimos 12 meses, houve um aumento de 7,8% nos itens adquiridos a cada ida do consumidor aos supermercados. No entanto, as dificuldades de consumo dos mais vulneráveis persistem.
Produzido pela Kantar, especialista em dados e consultoria, o estudo Consumer Insights Q1 2024 fez uma comparação da cesta de consumo entre março de 2023 e março de 2024.
Aumento no Consumo de Itens de “Sabor e Prazer”
Os alimentos enquadrados nas categorias de “sabor e prazer” tiveram os aumentos mais significativos. No período avaliado, bazar cresceu 9,9%, seguido por bebidas e doces, com 9,4% e 9,3% de aumento, respectivamente. Salgado (7,7%) e higiene e beleza (5,3%) vêm em seguida.
Segundo o diretor de contas da Kantar, Renan Morais, que atua há 12 anos com inteligência de mercado e negócios, o aumento do consumo doméstico está relacionado a dois contextos diferentes.
O primeiro deles é comportamental: houve diminuição na ida ao supermercado. “As pessoas estão espaçando mais as compras, enchendo mais o carrinho a cada visita em intervalos maiores”, diz Morais.
Cenário Macroeconômico Favorável
O segundo fator está relacionado a um cenário macroeconômico mais “positivo”. “A menor inflação, o baixo desemprego e as iniciativas do governo de fortalecimento de renda das classes mais baixas favoreceram o crescimento de categorias menos priorizadas”, afirma Morais.
A redução do endividamento das famílias, especialmente das classes mais baixas, permite que elas destinem mais recursos para categorias de bens de consumo não duráveis, como alimentação.
Impacto nas Classes C, D e E
“Estamos observando que as classes C, D e E estão acessando mais categorias como chocolates, salgadinhos de pacote, refrigerantes e cervejas. Há uma busca maior por essas categorias, que anteriormente tinham um papel mais complementar na cesta de compras”, explica o diretor.
Desafios para a População Vulnerável
Apesar do resultado dos estudos, a população vulnerável ainda enfrenta dificuldades no consumo ou não consegue sentir uma melhoria nos preços.
Dyane Ayala, responsável pela ONG Alegria de Ser Criança, dá uma visão mais prática a partir das dificuldades enfrentadas pela comunidade que atende em Vila Nova Curuçá, extremo leste da capital paulista. “Com o salário mínimo, ou até mesmo com o auxílio [Bolsa Família, que se chamou Auxílio Brasil no governo Bolsonaro] não dá para comprar tudo. Quem paga aluguel, água e luz passa por um aperto enorme”, desabafa.
Ela relata que as famílias mais pobres ainda enfrentam desafios no consumo. Muitas vezes precisam escolher entre alimentos e outros itens essenciais como leite, fraldas e medicações. “Ainda existe muita dificuldade. Alguns alimentos ficaram mais acessíveis, mas legumes e verduras subiram de preço”, comenta Ayala.
A Importância das Promoções
Segundo o estudo, os clientes brasileiros ainda declararam acessar promoções em 13% dos produtos comprados – o número era 11% no ano anterior. As promoções permitem que os compradores experimentem itens que não adquiriam antes.
“Depois de entrar em contato, testar e gostar, dificilmente ele vai tirar do carrinho. Então é uma oportunidade para as marcas reterem esse comprador”, explica Morais.
Apesar do cenário mais positivo, é importante continuar monitorando a situação das famílias mais vulneráveis e buscar soluções para garantir que todos possam ter acesso a uma alimentação adequada e saudável.