Prefeitura tem contrato de R$ 100 milhões com produtora de filme sobre Bolsonaro
A produtora responsável por “Dark Horse”, filme biográfico que pretende retratar o ex-presidente Jair Bolsonaro como herói, firmou um contrato superior a R$ 100 milhões com a Prefeitura de São Paulo. A informação foi revelada pelo Intercept Brasil.
Segundo a reportagem, a empresária Karina Ferreira da Gama, dona da Go Up Entertainment — produtora do longa —, também controla o Instituto Conhecer Brasil, ONG contratada pela gestão de Ricardo Nunes (MDB) para instalar pontos de wi-fi gratuitos em comunidades de baixa renda da capital.
Contrato milionário e adiantamento antes da entrega
O Conhecer Brasil foi a única ONG a apresentar proposta para o edital lançado em julho de 2024. O acordo firmado foi de R$ 108 milhões, com um adiantamento de R$ 26 milhões pago antes da execução completa dos serviços, destinado a acelerar a instalação de parte dos 5 mil pontos previstos, a tempo das eleições municipais.
Após o pleito que reelegeu Nunes, o ritmo de instalação desacelerou. Até o momento, apenas 3.200 pontos foram efetivamente instalados.
O valor do contrato chamou atenção por comparação: em 2023, a prefeitura pagou R$ 125 milhões ao Prodam — empresa municipal de tecnologia — para instalar quase 11 mil pontos de wi-fi em unidades de ensino, o dobro da estrutura pelo valor similar.
Outro ponto levantado pelo Intercept é que o Conhecer Brasil não possuía experiência prévia em instalação ou manutenção de redes wi-fi.
Mesmos endereços e conexões políticas
A reportagem mostra que Karina opera vários CNPJs — incluindo o Conhecer Brasil e a Go Up Entertainment — a partir de um mesmo endereço na Avenida Paulista, usado como escritório de coworking.
Além disso, o deputado e ex-secretário de Cultura Mário Frias, aliado de Bolsonaro e autor do roteiro de “Dark Horse”, destinou mais de R$ 2 milhões em emendas Pix ao Conhecer Brasil em 2024, para projetos esportivos e de letramento digital — nenhum deles divulgado no site oficial da ONG.
Frias também participa do filme com um pequeno papel.
Outras empresas de Karina receberam recursos públicos: a Academia Nacional da Cultura obteve R$ 2,6 milhões em emendas de parlamentares ligados ao bolsonarismo, como Carla Zambelli, Bia Kicis e Alexandre Ramagem, para uma série documental intitulada Heróis Nacionais, que ainda não foi lançada.
O que dizem a ONG e a prefeitura
O Instituto Conhecer Brasil afirmou ao Intercept que:
não há relação entre os projetos contratados pela Prefeitura de SP e aqueles financiados por Frias;
todos os recursos têm destinação específica e obedecem às regras legais;
suas ações seguem os termos contratuais e orientações de órgãos de controle.
A Prefeitura de São Paulo rejeitou qualquer vínculo entre autorizações de filmagem concedidas à produção de “Dark Horse” e o contrato do WiFi Livre SP, destacando que o programa atende milhares de famílias vulneráveis.
Também afirmou que nenhum recurso público foi destinado à produção do filme nem houve parceria com a SPCine.
O filme “Dark Horse”
O longa-metragem pretende contar a história de Jair Bolsonaro, com narrativa heroica e cenas de ação.
O roteiro, escrito por Mário Frias, descreve confrontos na Amazônia envolvendo cartéis, indígenas e xamãs, além de uma abordagem central ao atentado sofrido pelo ex-presidente.
Protagonista: Jim Caviezel (Som da Liberdade)
Elenco: Lynn Collins, Esai Morales e Felipe Folgosi
Direção: Cyrus Nowrasteh (O Apedrejamento de Soraya M.)
Locações: Brasil, Estados Unidos e México
Apoio público declarado: Donald Trump
A produção opera sob forte sigilo e reúne equipe internacional.
