Preta Gil morre aos 50 anos vítima de câncer e deixa legado de força, arte e representatividade

Preta Gil morre aos 50 anos vítima de câncer. Filha de Gilberto Gil, ela deixou um legado na música, no carnaval e como empresária da nova geração de artistas.

Cantora enfrentava câncer no intestino desde 2023; ela faleceu nos Estados Unidos durante tratamento experimental

A cantora e empresária Preta Gil morreu neste domingo (20), aos 50 anos, por complicações decorrentes de um câncer no intestino. A artista estava nos Estados Unidos, onde recebia tratamento experimental em um centro médico em Washington, após ter passado por quimioterapia, radioterapia e cirurgia no Brasil.
Preta enfrentava a doença desde janeiro de 2023. Após um período de remissão, o câncer retornou em outras partes do corpo, exigindo novos protocolos clínicos. Em Nova York, onde ficou hospedada nos últimos meses, manteve-se firme, cercada de amigos e familiares, buscando alternativas para continuar o tratamento.

Trajetória marcada por ousadia, reinvenção e coragem

Filha de Gilberto Gil e Sandra Gadelha, Preta Gil nasceu cercada pela música. Sobrinha de Caetano Veloso e afilhada de Gal Costa, ela se lançou oficialmente como cantora aos 29 anos, após deixar a carreira de produtora e publicitária. Seu álbum de estreia, *Prêt-à-Porter*, foi lançado em 2003 e chamou atenção não apenas pelas faixas, mas pela capa em que aparecia nua.

“Eu lancei o disco achando que estava abafando, mas veio uma enxurrada de críticas. De muito conservadorismo”, contou em entrevista a Pedro Bial.

A faixa Sinais de Fogo, escrita por Ana Carolina, tornou-se um dos maiores sucessos da sua carreira.

Discografia e projetos que marcaram gerações

O segundo álbum, *Preta*, saiu em 2005 com faixas como *Muito Perigoso*. Em 2010, veio o projeto *Noite Preta*, que percorreu o Brasil durante sete anos, dando origem ao famoso *Baile da Preta*, um espetáculo musical que refletia o ecletismo da cantora.

“A MPB pra mim vai de Caetano e Gil a Psirico e Aviões do Forró”, escreveu Preta no site oficial.

Em 2012, lançou o álbum Sou como Sou, com as canções Mulher Carioca e Relax. Para comemorar uma década de carreira, gravou o DVD Bloco da Preta, com participações de Ivete Sangalo, Anitta, Gal Costa, Lulu Santos, Thiaguinho e Marília Mendonça.

Seu último álbum foi Todas as Cores, lançado digitalmente em 2017. Com participações de Pabllo Vittar e Marília Mendonça, trouxe a faixa Botando a fila para andar, composta novamente por Ana Carolina.

Protagonista no carnaval e na representatividade

Preta Gil foi responsável pela criação de um dos maiores blocos de carnaval do Rio de Janeiro. O *Bloco da Preta*, iniciado em 2010, chegou a reunir mais de 500 mil foliões no Centro da capital fluminense.

“É o ápice do meu ano. Nele eu deposito muito da minha energia”, declarou ao g1.

Na TV, no empreendedorismo e nas redes

Além da música, Preta também brilhou na televisão, participando de programas como *Vai e Vem* (2010), com entrevistas bem-humoradas sobre sexo, além de participações em *Ó Paí, Ó*, *As Cariocas* e *Vai que Cola*.
Empreendedora, foi uma das fundadoras da agência Mynd, focada em influenciadores e artistas. A empresa gerenciava carreiras de nomes como Luísa Sonza, Pabllo Vittar e Camilla de Lucas, tornando-se referência no setor.

Família, maternidade e força pessoal

Preta era mãe de Francisco Gil, fruto do relacionamento com o ator Otávio Müller. Francisco é pai de Sol de Maria, única neta da cantora. Ao longo da vida, Preta teve outros dois casamentos: com Carlos Henrique Lima e, posteriormente, com Rodrigo Godoy, de quem se separou em 2023 durante o tratamento contra o câncer.
Ao lado da música, a maternidade e a família sempre foram pilares da sua vida. Em 2021, gravou a música Meu Xodó com o filho Fran.

“Se não fosse o Fran, eu talvez tivesse perdido a minha voz”, disse ao G1 na ocasião.

Legado de coragem, autenticidade e amor

Preta Gil foi muito além da música. Se tornou uma figura pública de coragem, autenticidade e generosidade. Fiel aos seus valores, usou sua visibilidade para falar sobre racismo, gordofobia, sexualidade, maternidade e empoderamento feminino.
Sua trajetória foi marcada por irreverência, afetos e superações. Preta Gil deixa um legado que ecoa em palcos, ruas e corações.