PCC na Faria Lima: megaesquema bilionário foi revelado após apreensão de caminhão em Guarulhos
Operação nacional contra o PCC descobre fraude bilionária em combustíveis. Esquema revelado em abordagem a caminhão-pipa movimentou R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024.
Abordagem que deu início às investigações
O que parecia uma ocorrência de rotina da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em 14 de maio de 2023, em Guarulhos, desencadeou a maior operação contra o crime organizado já realizada no Brasil. Um caminhão-pipa carregado com metanol levantou suspeitas e revelou um esquema que, segundo a Receita Federal, movimentou R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024.
O motorista Renan Diego Inocência da Silva foi flagrado transportando o produto químico, usado na indústria de biodiesel, mas que estava sendo desviado para adulteração de combustíveis em postos da Grande São Paulo.
Como funcionava o desvio de metanol
As investigações apontaram que o metanol saía do Porto de Paranaguá (PR) com destino formal a empresas químicas em Primavera do Leste (MT), mas era descarregado ilegalmente em postos de combustíveis paulistas, em alguns casos representando 50% da gasolina adulterada.
Para simular a legalidade, eram emitidos tickets de pesagem falsos e notas fiscais “quentes”, em nome de álcool ou gasolina. Um dos pontos de descarregamento identificado foi o Autoposto Bixiga, na região central de São Paulo.
Segundo o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), estima-se que 10 milhões de litros de metanol tenham sido desviados.
Estrutura criminosa e papel do PCC
O Gaeco, do Ministério Público de São Paulo (MPSP), identificou que o esquema envolvia distribuidoras, transportadoras e empresas químicas, todas ligadas a núcleos de atuação do PCC.
“Essa investigação ensejou três denúncias por organização criminosa e três por lavagem de dinheiro. A partir dela, foi revelado o ‘andar de cima’, com conexões que mostram o metanol chegando desde o porto e sendo desviado em várias etapas da cadeia”, explicou o promotor Yuri Fisberg em coletiva.
“Banco paralelo” e lavagem de bilhões
No centro financeiro, a BK Bank, fintech suspeita de atuar como “banco paralelo”, centralizava as movimentações ilícitas. Entre 2022 e 2023, registrou mais de 10,9 mil depósitos em espécie, somando R$ 61 milhões.
A Receita Federal identificou ainda o uso de 40 fundos de investimentos e múltiplas instituições de pagamento menores para ocultar patrimônio e lavar dinheiro da facção.
Megaoperação nacional
Batizada de Carbono Oculto, a força-tarefa mobilizou MP-SP, PF, Receita Federal e Gaeco em oito estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Santa Catarina.
Foram expedidos:
Mandados de prisão e busca contra mais de 350 alvos;
Bloqueio de bens de pessoas físicas e jurídicas;
Investigações sobre adulteração de combustíveis, lavagem de dinheiro, fraude fiscal e crimes ambientais.
Impacto e próximos passos
A investigação revelou que cerca de 1.000 postos de combustíveis ligados ao esquema movimentaram valores bilionários em apenas quatro anos. Além da adulteração, foram constatadas fraudes como a “bomba baixa”, em que motoristas abastecem menos combustível do que pagam.
As operações continuam em andamento e novas denúncias devem ser apresentadas pelo MPSP e pela Polícia Federal.
