sexta-feira, 5 dezembro 2025
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Esquizofrênico e sem acolhimento após completar 18 anos, jovem morto por leoa foi “entregue à própria sorte”, diz conselheira

O jovem Gerson de Melo Machado, de 19 anos, morto após invadir a jaula de uma leoa no Parque Arruda Câmara, em João Pessoa, vivia há anos com esquizofrenia e não recebeu o acompanhamento adequado depois de atingir a maioridade.

O jovem Gerson de Melo Machado, de 19 anos, morto após invadir a jaula de uma leoa no Parque Arruda Câmara, em João Pessoa, vivia há anos com esquizofrenia e não recebeu o acompanhamento adequado depois de atingir a maioridade. A informação foi confirmada pela conselheira tutelar Verônica Oliveira, que acompanhou o rapaz desde os seus 10 anos de idade.

Segundo Verônica, a ausência de políticas públicas de transição para jovens com transtornos mentais que deixam o acolhimento institucional contribuiu diretamente para a tragédia.

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Depois que ele fez 18 anos, foi entregue à própria sorte. Saiu do acolhimento institucional e entrou no sistema prisional”, lamentou a conselheira, em entrevista ao g1.

Ela afirma que João Pessoa não possui albergues ou moradias assistidas voltadas para jovens e adultos com transtornos psiquiátricos, algo considerado básico por movimentos de saúde mental no país. Nessas estruturas, o acolhimento é contínuo e acompanhado por profissionais, garantindo autonomia sem abandono — o que não aconteceu com Gerson.

“Não foi o caso de Gerson”

Verônica explica que crianças e adolescentes com transtornos podem permanecer em acolhimento institucional até os 18 anos — em raros casos, até os 21. Após isso, o sistema simplesmente os desliga, sem garantir uma rede de suporte.

Um albergue é o grande sonho do movimento antimanicomial. Já existe em outras cidades. Aqui, não.
Como não há essa estrutura, ele ficou completamente vulnerável”, explicou.

Laudo saiu tarde demais

A conselheira afirma que os sinais de esquizofrenia eram evidentes desde a adolescência.

“Ele ouvia vozes. A gente já sabia que era esquizofrenia. Mas o laudo formal só veio quando ele entrou no sistema socioeducativo — tarde demais”, disse.

Fascinado por leões desde criança

Verônica também revelou um detalhe marcante sobre a história de Gerson: o jovem era obcecado por leões desde pequeno.

Ele dizia que iria para a África, para um safári, porque ia domar leões. Isso era uma fala constante desde cedo”, relatou.

Gerson morreu no domingo (30) após pular a grade de proteção e invadir a jaula da leoa. Segundo testemunhas, ele teria ignorado avisos dos visitantes e funcionários antes de ser atacado. O caso reacende o debate sobre acolhimento de jovens com transtornos mentais que deixam instituições sem qualquer suporte do Estado.

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Gabriel Figueiredo
Gabriel Figueiredo
Gabriel Figueiredo, jornalista baiano, nascido em Feira de Santana, com mais de 15 anos de experiência, é referência em notícias locais e inovação do Minha Bahia.
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