O jovem Gerson de Melo Machado, de 19 anos, morto após invadir a jaula de uma leoa no Parque Arruda Câmara, em João Pessoa, vivia há anos com esquizofrenia e não recebeu o acompanhamento adequado depois de atingir a maioridade. A informação foi confirmada pela conselheira tutelar Verônica Oliveira, que acompanhou o rapaz desde os seus 10 anos de idade.
Segundo Verônica, a ausência de políticas públicas de transição para jovens com transtornos mentais que deixam o acolhimento institucional contribuiu diretamente para a tragédia.
“Depois que ele fez 18 anos, foi entregue à própria sorte. Saiu do acolhimento institucional e entrou no sistema prisional”, lamentou a conselheira, em entrevista ao g1.
Ela afirma que João Pessoa não possui albergues ou moradias assistidas voltadas para jovens e adultos com transtornos psiquiátricos, algo considerado básico por movimentos de saúde mental no país. Nessas estruturas, o acolhimento é contínuo e acompanhado por profissionais, garantindo autonomia sem abandono — o que não aconteceu com Gerson.
“Não foi o caso de Gerson”
Verônica explica que crianças e adolescentes com transtornos podem permanecer em acolhimento institucional até os 18 anos — em raros casos, até os 21. Após isso, o sistema simplesmente os desliga, sem garantir uma rede de suporte.
“Um albergue é o grande sonho do movimento antimanicomial. Já existe em outras cidades. Aqui, não.
Como não há essa estrutura, ele ficou completamente vulnerável”, explicou.
Laudo saiu tarde demais
A conselheira afirma que os sinais de esquizofrenia eram evidentes desde a adolescência.
“Ele ouvia vozes. A gente já sabia que era esquizofrenia. Mas o laudo formal só veio quando ele entrou no sistema socioeducativo — tarde demais”, disse.
Fascinado por leões desde criança
Verônica também revelou um detalhe marcante sobre a história de Gerson: o jovem era obcecado por leões desde pequeno.
“Ele dizia que iria para a África, para um safári, porque ia domar leões. Isso era uma fala constante desde cedo”, relatou.
Gerson morreu no domingo (30) após pular a grade de proteção e invadir a jaula da leoa. Segundo testemunhas, ele teria ignorado avisos dos visitantes e funcionários antes de ser atacado. O caso reacende o debate sobre acolhimento de jovens com transtornos mentais que deixam instituições sem qualquer suporte do Estado.
