Influenciadores encaram mercado saturado e buscam novos Caminhos
O sonho de ser criador de conteúdo
A carreira de criador de conteúdo online tem atraído muitos jovens, mas o encanto inicial enfrenta a realidade de um mercado desafiador. Uma pesquisa da Edelman Data & Intelligence mostra que a maioria dos jovens sonha em se tornar influenciadores, um cenário bem diferente de profissões tradicionalmente cobiçadas.
Por que alguns influenciadores estão deixando as redes?
Influenciadores com trajetórias consolidadas começam a deixar o setor, motivados por questões como baixa remuneração, ausência de regulação e falta de profissionalismo nas contratações. A jornalista baiana Marttinha Fonseca, ativa no meio desde 2011 e com um histórico de parcerias com grandes marcas, é um exemplo de quem está buscando oportunidades no mundo corporativo após anos dedicando-se exclusivamente à criação de conteúdo.
“Quando comecei meu processo de transição, eu não tinha feito um currículo na vida. Um privilégio. Justamente porque comecei o blog quando eu estava na faculdade”, conta Marttinha. A jornalista testemunhou a mudança no mercado na última década: “Ninguém sabia o que era ser blogueira”. Segundo ela, era preciso explicar às marcas o impacto do trabalho dos influenciadores.
Mudanças no mercado de influência
Gabriel Bonfim, do Grupo Bando, e Cristiane Serra, do Sebrae, destacam a evolução do “marketing de influência” e seus benefícios para as marcas, como aumento da visibilidade e engajamento. A pandemia de Covid-19 acelerou esse processo, mas também trouxe uma concorrência mais acirrada e um aumento no número de influenciadores.
Desafios e frustrações
A saturação do mercado e a prática de trabalhar por permuta ou sem seguir diretrizes claras causam frustração tanto nos criadores quanto nas marcas. Marttinha Fonseca aponta para a falta de regulação como uma barreira, enquanto Vanessa Ventura cita a dificuldade de obter retorno financeiro substancial, especialmente fora dos grandes centros e para criadores de conteúdo negros.
“Não é um mercado regulado, não tem sindicato, não tem tabela, não tem orientação”, destaca.
Pressão por maior representatividade
A representatividade preta, LGBTQIAPN+, e nordestina ainda é uma demanda a ser atendida pelo mercado, segundo Gabriel Bonfim. Vanessa Ventura também relata a existência de uma “cota” para criadores de conteúdo não brancos, limitando o crescimento de suas carreiras.
“Nunca fiz publicidade com grandes valores, todos os meus trabalhos foram com marcas pequenas, regionais”, diz Vanessa.
Para a gerente de marketing, trabalhar fora do eixo Rio-São Paulo e ser uma influenciadora negra atravancaram o crescimento do perfil.
“Existia uma ‘cota’ para criadoras não brancas subirem na carreira”.
Buscando a profissionalização
A transição para o mundo corporativo ou a diversificação das fontes de renda surgem como alternativas para influenciadores em busca de estabilidade. A venda de infoprodutos, oferta de palestras, e mentorias são algumas das estratégias adotadas. Gabriel Bonfim e Cristiane Serra enfatizam a importância da visão empreendedora e da profissionalização para o sucesso nesse cenário competitivo.
Um mercado em evolução
A jornada dos influenciadores digitais está longe de ser linear, enfrentando desafios que vão desde a saturação do mercado até a necessidade de maior profissionalismo e regulamentação. Enquanto alguns buscam novas oportunidades fora das redes, outros se adaptam e procuram novas formas de monetização, refletindo a dinâmica e a constante evolução do mercado de influência digital.
Marttinha também percebeu essa saturação deste mercado:
“Tem muita gente fazendo conteúdo e não tem publicidade para todo mundo”.
Por ora, ela pretende continuar na produção nas redes sociais, mas já começou o processo de transição para a carreira corporativa.
“Estou confiante, porque as empresas querem estar nas redes sociais, mas a galera que está lá nunca sentou e fez, nunca construiu comunidade [online]. Eu tenho essa experiência”.