Ex-franqueados da Cresci e Perdi falam sobre “Mural da Feiura” e clima de medo
Antigos franqueados da Cresci e Perdi, rede de brechós infantis, relataram terem sido expostos publicamente e constrangidos em canais internos de comunicação da marca. Segundo as denúncias, o ambiente criado pela direção da empresa era de pressão, medo e hostilidade.
De acordo com os relatos, Elaine Alves, fundadora e ex-CEO, e Saulo Alves, atual CEO e seu primo, utilizavam um canal restrito no Instagram para fazer críticas a lojistas que não seguiam as regras da franquia. O espaço foi apelidado pela própria direção de “Mural da Feiura”, onde eram exibidos erros de gestão e faturamentos inferiores ao esperado, com informações que permitiam identificar os franqueados.
Além disso, ex-associados afirmam que mensagens com teor semelhante continuaram sendo compartilhadas em listas de transmissão no WhatsApp, já sob o comando de Saulo Alves.
“Vontade de dar na cara” e exposição de faturamento
Em agosto, vieram a público vídeos de Elaine Alves em que ela afirmava ter “vontade de dar na cara” de alguns franqueados. Segundo a própria empresa, a gravação foi feita no fim de 2023 e divulgada em um canal interno voltado apenas à rede de lojistas.
“Eu queria fazer a CEO zen que vai trabalhar e falar ‘eu amo meu trabalho’. Mas não dá, velho. Eu fico aqui me descabelando para criar estratégia, evento […] E os franqueados… dá vontade de dar na cara”, disse Elaine em vídeo.
De acordo com ex-franqueados ouvidos pela reportagem, as críticas públicas e apelidos pejorativos eram práticas comuns. Alguns lojistas relataram que o faturamento de lojas era exposto sem autorização, com comparações entre unidades que tinham desempenho diferente.
Um dos casos mais citados foi o de uma franqueada apelidada de “bomboniere”, por vender doces e chocolates — o que contraria o contrato da marca.
Clima de medo e danos emocionais
Ex-parceiros afirmam que o ambiente dentro da rede era marcado por pressão psicológica, humilhações públicas e ameaças veladas.
Alguns relataram que o período na franquia resultou em problemas de saúde mental, como crises de ansiedade e depressão, e que foi preciso buscar ajuda psiquiátrica após deixar o negócio.
“Eu perdi 12 quilos. Vivíamos com medo de ser expostos publicamente, e qualquer crítica era vista como traição”, contou uma ex-franqueada.
Segundo as denúncias, o clima piorava quando as lojas registravam queda no faturamento. A franqueadora costumava atribuir toda a culpa aos lojistas, dizendo que “não serviam para o negócio”.
Controle sobre redes sociais e bloqueio de contas
Outros relatos mencionam controle excessivo sobre as redes sociais das lojas. A direção da franquia supervisionava publicações, campanhas e até solicitações de selos de verificação junto à Meta.
O pedido de verificação feito apenas para parte das unidades teria levado o sistema a bloquear outras contas por suposto plágio, o que afetou diretamente as vendas de algumas lojas.
Mensagens enviadas pela direção alertavam que franqueados poderiam “acordar sem redes sociais”, o que gerava apreensão entre os lojistas. Para muitos, as plataformas digitais eram o principal canal de vendas e comunicação com clientes.
Empresa admite mudança na comunicação e nega irregularidades
Procurada, a Cresci e Perdi informou que passou por um processo de revisão interna em sua comunicação com os franqueados.
“Antigos canais de relacionamento foram descontinuados, e o suporte à rede passou a seguir um modelo padronizado, sem contato direto entre franqueados e a direção da empresa”, declarou a marca em nota.
A empresa também afirmou que não tolera práticas fora das diretrizes contratuais, como vendas não autorizadas, promoções independentes ou ações fora do padrão da marca.
Segundo a franqueadora, parte das denúncias vem de ex-franqueados processados por concorrência desleal, que teriam criado uma operação paralela em desacordo com os contratos originais.
Rede em expansão
Fundada em 2014, a Cresci e Perdi é uma das maiores redes de brechós infantis do país, com 566 lojas em operação e 94 em fase de implementação, espalhadas por todos os estados.
Em 10 de outubro de 2025, a empresa inaugurou sua primeira unidade internacional, em Assunção, no Paraguai.
O investimento inicial para abrir uma franquia varia de R$ 275 mil (em cidades de até 60 mil habitantes) a R$ 495 mil (em municípios com mais de 120 mil habitantes).
