Banco Central mantém Selic em 15% e encerra ciclo de alta após 10 meses
Copom mantém Selic em 15% ao ano e encerra ciclo de alta. Taxa está no maior nível desde 2006, em meio à inflação resistente e cenário externo incerto.
Taxa básica de juros segue no maior patamar em 19 anos; decisão reflete preocupação com inflação e tensão no comércio exterior
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, nesta quarta-feira (30), manter a taxa Selic inalterada em 15% ao ano, interrompendo oficialmente o ciclo de alta de juros iniciado em setembro de 2024. A Selic segue, assim, no maior nível desde julho de 2006.
A decisão foi unânime e já era amplamente esperada pelo mercado. Segundo levantamento da Bloomberg, a maioria dos economistas apostava na manutenção da taxa, após sete aumentos consecutivos que elevaram os juros de 10,5% para 15% em menos de um ano.
Selic no topo e inflação ainda pressionada
Com a Selic estacionada, o Banco Central encerra uma fase de aperto monetário agressivo, que buscou conter a inflação persistente no país. No entanto, as projeções para os próximos anos seguem acima da meta central de 3%:
- 2026: projeção de inflação em 4,44%
- 2027: projeção em 4%, pela 23ª semana consecutiva
A meta de inflação é considerada cumprida se o IPCA ficar entre 1,5% e 4,5%. A expectativa do BC é que os índices voltem ao centro da meta somente a partir do primeiro trimestre de 2026, e, com os efeitos defasados da política monetária, o foco do Copom agora se volta para 2027.
Galípolo cumpre estratégia de transição
Sob o comando do novo presidente Gabriel Galípolo, que assumiu em janeiro, o Copom manteve a estratégia traçada pela gestão anterior. O ciclo de alta começou com Roberto Campos Neto, encerrando sua gestão com um sinal claro de endurecimento monetário.
Na transição, Galípolo aplicou duas altas de um ponto percentual em sequência, desacelerando depois até atingir os 15% em junho. Naquela ocasião, o BC já havia sinalizado que poderia interromper o ciclo, o que se confirmou nesta reunião.
Cenário internacional e efeitos do tarifaço
A decisão também considera os desdobramentos do recente tarifaço anunciado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, que impôs sobretaxas de 50% a produtos brasileiros, gerando incertezas adicionais. O impacto dessa medida na inflação, no câmbio e na balança comercial ainda é incerto, o que exige cautela por parte da autoridade monetária.
Além disso, o Federal Reserve (Fed) dos EUA manteve os juros no intervalo de 4,25% a 4,50% ao ano pela quinta vez consecutiva, o que contribui para uma leitura mais estável do cenário externo no curto prazo.
Próxima reunião e expectativa de manutenção
Com sete dos nove membros do Copom indicados pelo governo Lula, o colegiado volta a se reunir nos dias 16 e 17 de setembro. A expectativa majoritária é de manutenção da Selic, a depender da evolução dos preços, do cenário internacional e do impacto da guerra comercial com os EUA.
A permanência dos juros em 15% reforça o compromisso do BC com a convergência da inflação, mas também acende alertas sobre o impacto prolongado no crédito, no consumo e no crescimento econômico do país.
