sexta-feira, 5 dezembro 2025
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EUA querem acesso a minerais estratégicos do Brasil em meio a disputa comercial com Trump

Principal diplomata dos EUA no Brasil busca diálogo com setor de mineração para garantir fornecimento de lítio, nióbio e terras raras; governo brasileiro avalia riscos geopolíticos e recusa pressão sem contrapartida.

EUA querem acesso a minerais estratégicos do Brasil em meio a disputa comercial com Trump

Gabriel Escobar, representante dos EUA no Brasil, manifestou interesse em lítio, nióbio e terras raras. Governo brasileiro reforça que qualquer negociação será decidida pelo Estado e não aceita pressão unilateral.

Gabriel Escobar se reúne com mineradoras e reforça interesse americano em lítio, nióbio e terras raras

O encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos em Brasília, Gabriel Escobar, principal representante diplomático americano no Brasil, manifestou oficialmente o interesse do governo norte-americano em obter acesso aos chamados minerais críticos e estratégicos brasileiros, como lítio, nióbio e terras raras. A sinalização foi feita durante reunião com representantes do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), realizada na quarta-feira (24), em Brasília.

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Segundo o presidente do Ibram, Raul Jungmann, Escobar ouviu dos empresários que esse tipo de negociação deve ser tratada exclusivamente pelo governo federal, já que os recursos minerais são bens da União. “Foi demonstrado o interesse dos Estados Unidos, mas deixamos claro que cabe ao governo decidir”, afirmou Jungmann.

Governo brasileiro reforça soberania sobre reservas e avalia cenário geopolítico

Após a reunião, Jungmann levou o tema ao vice-presidente Geraldo Alckmin, responsável pelas tratativas com os EUA para tentar reverter a sobretaxa de 50% anunciada por Donald Trump sobre as exportações brasileiras a partir de 1º de agosto.

Fontes do governo brasileiro afirmam que não há restrições formais para a participação de empresas estrangeiras no setor mineral, mas que, diante da crise diplomática e comercial entre os dois países, o fornecimento desses minerais não será liberado sem contrapartidas relevantes.

Trump mistura interesses comerciais e pressões políticas

Apesar do interesse declarado dos EUA nos minerais críticos, o presidente Donald Trump não incluiu oficialmente esse tema nas negociações sobre as tarifas. Até agora, ele condiciona qualquer avanço na relação comercial ao tratamento dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro pela Justiça brasileira, em um movimento que mistura política interna e interesses econômicos.

Brasil tem uma das maiores reservas do mundo de minerais estratégicos

De acordo com o Guia para o Investidor Estrangeiro em Minerais Críticos 2025, elaborado pelo Ministério de Minas e Energia (MME), o Brasil possui reservas significativas de minerais de interesse estratégico:

  • Nióbio: 94% das reservas mundiais e 90% da produção global.
  • Terras raras: 19% das reservas, mas apenas 0,02% da produção.
  • Grafita: 26,4% das reservas globais.
  • Níquel: 12,3% das reservas mundiais.
  • Lítio: 4,9% das reservas e 2,72% da produção internacional.

Só no estado de Minas Gerais, onde se concentra o Vale do Jequitinhonha, os investimentos em mineração de lítio devem ultrapassar R$ 15 bilhões até 2030. Os aportes no setor mineral no estado já somam mais de R$ 5 bilhões.

Missão empresarial aos EUA busca reverter sobretaxa

A reunião entre o Ibram e Escobar foi pedida pela própria embaixada americana. Os dirigentes da entidade informaram que estão organizando uma missão empresarial ao território norte-americano, prevista para setembro ou outubro, a fim de pressionar importadores e autoridades americanas por uma negociação mais equilibrada.

Em 2024, o Brasil exportou cerca de 400 milhões de toneladas de minérios, somando US$ 43,4 bilhões (R$ 250 bilhões). As importações no mesmo período alcançaram 400 mil toneladas, ao custo de US$ 4,392 bilhões (R$ 25,3 bilhões). Os principais destinos das exportações foram China (24%) e Alemanha (12%).

Especialistas apontam risco geopolítico e recomendam cautela

Para especialistas em geopolítica, o interesse dos EUA não surpreende. Rubens Duarte, professor da ECEME e coordenador do Labmundo, afirmou que o Brasil precisa avaliar com cautela os riscos envolvidos, especialmente diante da disputa entre China e Estados Unidos.

“Cabe ao governo brasileiro verificar quais acordos serão mais vantajosos para o país, levando em consideração as consequências políticas e econômicas, que estão acentuadas devido à disputa geopolítica entre China e EUA”, destacou.

Ronaldo Carmona, da Escola Superior de Guerra (ESG), reforçou que os minerais críticos são ativos de segurança nacional.

“O Brasil não deve aceitar um acordo sobre minerais desfavorável aos seus interesses nacionais. A gestão desses recursos é um fator de soberania”, disse.

Já o consultor Luís Fernando Mandella afirmou que, se o tema avançar para uma negociação formal, pode representar uma oportunidade estratégica para o Brasil.

“Países que querem ser líderes em tecnologia, como EUA e China, precisam comprar esses minerais”, ressaltou.

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Gabriel Figueiredo
Gabriel Figueiredo
Gabriel Figueiredo, jornalista baiano, nascido em Feira de Santana, com mais de 15 anos de experiência, é referência em notícias locais e inovação do Minha Bahia.
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