Impasse na Bahia coloca em risco fusão nacional entre PSDB e Podemos
Fusão entre PSDB e Podemos sofre impasse na Bahia. Partidos têm alianças opostas e disputam o comando da nova legenda no estado. Resistência pode travar união nacional.
Resistência baiana expõe fragilidade da aliança entre partidos com bases e alianças políticas divergentes
A recente aprovação da fusão entre PSDB e Podemos, concebida como estratégia para driblar a cláusula de barreira e garantir sobrevivência no cenário político nacional, enfrenta um sério obstáculo na Bahia. No estado, a união entre as siglas está longe de ser pacífica e já revela sinais de crise interna antes mesmo de ser oficializada.
Aliados em lados opostos: PSDB na oposição e Podemos na base do governo
Enquanto nacionalmente o PSDB aprovou com ampla maioria a fusão com o Podemos — 201 votos a favor e apenas dois contrários na convenção realizada em São Paulo —, na Bahia os dois partidos seguem trajetórias políticas opostas. O PSDB integra o bloco de oposição ao governador Jerônimo Rodrigues (PT), já o Podemos ocupa cargos estratégicos na gestão estadual, como a Superintendência da Defesa Civil, comandada por Heber Santana.
A divergência de posicionamento político acende o alerta entre lideranças locais, que temem a perda de identidade da nova legenda. A avaliação nos bastidores é de que, sem uma linha clara de atuação, o partido pode ser esvaziado ou dividido entre petistas e aliados de Bruno Reis (União Brasil) e ACM Neto, fragilizando ainda mais sua força eleitoral.
Disputa pelo comando da sigla acirra tensões
O impasse sobre quem vai liderar o novo partido na Bahia tem sido outro fator de tensão. O PSDB defende o nome do deputado federal Adolfo Viana para presidir a sigla no estado, enquanto o Podemos insiste na permanência de Heber Santana à frente do diretório. A falta de consenso escancara a luta por protagonismo em uma estrutura que, isoladamente, não garante poder a nenhum dos dois grupos.
Fusão pode ser revista antes mesmo de ser consolidada
Nos bastidores de Brasília e Salvador, há quem aposte que o Podemos pode desistir da fusão antes mesmo de realizar sua convenção nacional, ainda sem data marcada. Entre os motivos estariam as profundas divergências internas, o desgaste da marca PSDB nos últimos anos e a ausência de um projeto político comum com objetivos claros e viáveis.
O PSDB, que já teve protagonismo no cenário político nacional, viu seu espaço ser reduzido com o avanço do bolsonarismo e a migração de seus principais líderes, como Eduardo Leite e Raquel Lyra, para o PSD.
Sobrevivência política e cláusula de desempenho
A principal motivação para a fusão entre PSDB e Podemos é o cumprimento da cláusula de desempenho estabelecida pela Emenda Constitucional de 2017. A regra determina que, para continuar acessando o fundo partidário e o tempo de rádio e TV, os partidos devem atingir um mínimo de votação nas eleições. Sem a união, ao menos 11 legendas correm o risco de ficar abaixo da linha de corte.
A nova legenda pretende se apresentar como uma alternativa de centro-direita, com a expectativa de eleger cerca de 30 deputados federais, sete senadores e 400 prefeitos nas eleições municipais de 2024. No entanto, sem unidade interna e com divisões evidentes em estados estratégicos como a Bahia, o projeto corre o risco de fracassar e se tornar mais um sintoma da fragmentação partidária que a cláusula de barreira tenta justamente combater.
